quarta-feira, 27 de agosto de 2008

UM DEDO DE PROSA


AOS LEITORES DO PORTAL

Caríssimos visitantes,

Ao passarem pelo PORTAL DA POESIA, muitos blogueiros perguntam-me como fazer para ter acesso aos arquivos anteriores.
Infelizmente, na forma como eu vinha editando o PORTAL, não há (ou não havia) meios de acessar esses arquivos, pois a cada semana eu "deletava" os textos aqui publicados e inseria outros.
Assim sendo, resolvi mudar o formato do BLOG (sem descaracterizá-lo em demasia) a fim de satisfazer o desejo de alguns dos nosos fiéis visitantes. Espero com isso estar colaborando com a difusão dos textos aqui publicados, cujos autores (anônimos e/ou já consagrados) terão mais uma oportunidade de ver seus trabalhos reconhecidos mundo afora.

Um forte abraço.
MEUS VERSOS LÍRICOS



VARINHA DE CONDÃO
(Joésio Menezes)


Eu gostaria de ter
Uma varinha de condão,
Para poder transformar
A discórdia em união.

A miséria em fartura,
A maldade em bondade,
O medo em coragem,
O cárcere em liberdade.

O fraco em forte,
O incapaz em capaz,
A malevolência em virtude,
A guerra em paz.

O desespero em bonança,
A tristeza em felicidade,
O desafeto em afeto,
A diferença em igualdade.

O desprezo em apreço,
O despudor em pudor,
O impossível em possível,
O ódio em amor...


CONTRADIÇÕES
(Joésio Menezes)

A água que sacia nossa sede,
A água que o rio conduz,
A água que lava nossas mãos
É a mesma água que o homem polui.

A fome que maltrata nosso povo,
A fome que se alastra mundo afora,
A fome que judia de nossas crianças
É a mesma fome que o homem ignora.

A guerra que tanta dor nos traz,
A guerra que nos asfixia,
A guerra, grande desgraça do mundo,
É a mesma guerra que o homem financia.

O homem que destrói a natureza,
O homem que ao outro extermina,
O homem que não tem amor
É o mesmo homem que Deus ilumina.


VULCÃO
(Joésio Menezes)

Por trás desta tua ingenuidade
Esconde-se a labareda veemente
De um fogo inapagável e ardente,
Que solta centelhas de puberdade.

Nenhum bombeiro em sua sanidade
Se atreveria ao ato indolente
De apagar essa chama inocente,
E com ele a tua mocidade.

Camuflado nesse fogo inapagável
Existe o ar de pureza inefável
Que nos deixa, cautelosos, a refletir:

“- O que tem nesse jeito de criança
É somente a chama acesa da esperança,
Ou um vulcão com vontade de explodir?”

(Nas Asas da Poesia, Brasília, 1998, páginas 19, 20 e 41)
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL


EU E A POESIA
(Mena Moreira)

O que seria de mim sem a poesia?
Uma vida sem maestria
Um guerreiro sem valentia
Uma orquestra sem harmonia
Um mar sem calmaria

O que seria de mim sem a poesia?
Uma amizade sem simpatia
Um palhaço sem alegria
Uma criança sem moradia
Um convívio sem cortesia

O que seria de mim sem poesia?
Uma paz sem anistia
Um empreendedor sem ousadia
Uma compra sem garantia
Um mestre sem sabedoria

O que seria de mim sem a poesia?
A noite sem o dia!


MUSA
(Vera Fracaroli)

Minha inspiração vem do amor
Nasce no coração, mora no olhar
Flutua no vento, nas águas do mar
Aquece no sol de um dia de calor.

E descanso nas noites de luar
A espera de mais um sonho terminar!
A cada minuto este amor se renova
Guiado pelo vento que se troca...

Levando meu corpo nesta festa
Que trago em versos e canções
Onde há sentença de uma prova...
Inspirar em tudo o que me rodeia

É como imaginar cada movimento
Celebrando cada data positiva
Das lembranças que tento reviver
Por toda minha vida

Sentindo a saudade de você
Entre sonhos vividos
Inspirar é o meu destino
Você é a musa neste mandamento

É o vicio que gosto de ter
Que não canso de te querer
Pra não mais te esquecer!
É por isso que não vivo
Por viver!!!


CANÇÃO DO DIA DE SEMPRE
(Mário Quintana)

Tão bom viver dia a dia...
A vida assim, jamais cansa...

Viver tão só de momentos
Como estas nuvens no céu...

E só ganhar, toda a vida,
Inexperiência... esperança...

E a rosa louca dos ventos
Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
Sempre é outro rio a passar.

Nada jamais continua,
Tudo vai recomeçar!

E sem nenhuma lembrança
Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
Nas tuas mãos distraídas...
CRÔNICA DA SEMANA


VAMPIROS
(Martha Medeiros)

Eu não acredito em gnomos ou duendes, mas vampiros existem. Fique ligado, eles podem estar numa sala de bate-papo virtual, no balcão de um bar, no estacionamento de um shopping. Vampiros e vampiras aproximam-se com uma conversa fiada, pedem seu telefone, ligam no outro dia, convidam para um cinema. Quando você menos espera, está entregando a eles seu rico pescocinho e mais. Este "mais" você vai acabar descobrindo o que é com o tempo.
Vampiros tratam você muito bem, têm muita cultura, presença de espírito e conhecimento da vida. Você fica certo que conheceu uma pessoa especial. Custa a se dar conta de que eles são vampiros, parecem gente. Até que começam a sugar você. Sugam todinho o seu amor, sugam sua confiança, sugam sua tolerância, sugam sua fé, sugam seu tempo, sugam suas ilusões. Vampiros deixam você murchinha, chupam até a última gota. Um belo dia você descobre que nunca recebeu nada em troca, que amou pelos dois, que foi sempre um ombro amigo, que sempre esteve à disposição, e sofreu tão solitariamente que hoje se encontra aí, mais carniça do que carne.
Esta é uma historinha de terror que se repete ano após ano, por séculos. Relações vampirescas: o morcegão surge com uma carinha de fome e cansaço, como se não tivesse dormido a noite toda, e você se oferece para uma conversa, um abraço, uma força. Aí ele se revitaliza e bate as asinhas. Acontece em São Paulo, Manaus, Recife, Florianópolis, em todo lugar, não só na Transilvânia. E ocorre também entre amigos, entre colegas de trabalho, entre familiares, não só nas relações de amor.
Doe sangue para hospitais. Dê seu sangue por um projeto de vida, por um sonho. Mas não doe para aqueles que sempre, sempre, sempre vão lhe pedir mais e lhe retribuir jamais.
RESENHA LITERÁRIA


GABRIELA CRAVO E CANELA
(Jorge Amado)

Gabriela Cravo e Canela é dividido em duas partes, que são em si divididas em outras duas. A história começa em 1925, na cidade de Ilhéus. A primeira parte é Um Brasileiro das Arábias e sua primeira divisão é O langor de Ofenísia. Vai centrando-se a história nesta parte em dois personagens: Mundinho Falcão e Nacib. Mundinho é um jovem carioca que emigrou para Ilhéus e lá enriqueceu como exportador e planeja acelerar o desenvolvimento da cidade, melhorar os portos e derrubar Bastos, o inepto governante. Nacib é um sírio ("turco é a mãe!") dono do bar Vesúvio, que se vê em meio a uma grande tragédia pessoal: a cozinheira de seu partiu para ir morar com o filho e ele precisa entregar um jantar para 30 pessoas em comemoração a inauguração de uma linha automotiva regular para a cidade de Itabuna. Ele encomenda com um par de gêmeas careiras, mas passa toda à parte procurando por uma nova cozinheira. No final desta pequena parte aparece Gabriela, uma retirante que planeja estabelecer-se em Ilhéus como cozinheira ou doméstica, apesar dos pedidos do amante que planeja ganhar dinheiro plantando cacau. A segunda parte desta primeira parte é A solidão de Glória e passa-se apenas em um dia. O dia começa com o amanhecer de dois corpos na praia, frutos de um crime passional (todo mundo dá razão ao marido traído/assassino), segue com as preparações do jantar e a contratação de Gabriela por Nacib. No jantar acirram-se as diferenças políticas e, na prática, declara-se à guerra pelo poder em Ilhéus entre Mundinho Falcão (oposição) e os Bastos (governo). Quando o jantar acaba (em paz), Nacib volta para casa e, quando ia deixar um presente para Gabriela silenciosa, mas não inocentemente, tem com ela a primeira noite de amor/luxúria.
A segunda parte chama-se propriamente Gabriela Cravo e Canela e sua primeira parte, o capítulo terceiro, chama-se O segredo de Malvina, terceiro capítulo, passa-se cerca de três meses após o fim do outro capítulo, e três problemas existem: o caso Malvina-Josué-Glória-Rômulo, as complicações políticas e o ciúme de Nacib. Vamos pela ordem. Josué era admirador de Malvina, filha de um coronel com espírito livre. Esta começa a namorar Rômulo, um engenheiro chamado por Mundinho Falcão para estudar o caso da barra (que impedia que navios grandes atracassem no porto de Ilhéus). Josué se desaponta e se interessa por Glória, amante de um outro coronel. Rômulo foge após um escândalo feito pelo machista (tão machista quanto o resto da sociedade ilheense) pai de Malvina, Malvina faz planos de se libertar e Josué começa um caso em segredo com Glória. Na política, acirra-se a disputa por votos ao ponto do coronel Bastos mandar queimar toda uma tiragem do jornal de Mundinho. Mas Mundinho ganha terreno com a chegada do engenheiro. E perde quando esse foge covarde. E ganha com a promessa da chegada de dragas a Ilhéus. Nacib enquanto isso desenvolveu um caso com Gabriela. Mas está sendo atacado pelo ciúme (todos querem Gabriela, perfume de cravo, cor de canela). Aos poucos ele percebe que é amor e acaba propondo casamento a Gabriela após a última investida do juiz (alarme falso, ele já havia desistido). Mas foi a tempo, já que até roças do poderoso cacau de Ilhéus já haviam sido oferecidas a Gabriela.
O capítulo acaba durante a festa de casamento de Nacib e Gabriela (no civil, já que Nacib é muçulmano não-praticante), quando chegam as dragas no porto de Ilhéus. A quarta e última parte chama-se O luar de Gabriela. Nesta resolvem-se todos os casos. Pela ordem: Josué e Glória oficializam a relação e Glória é expulsa de sua casa por seu coronel. Na parte da política, após o coronel Ramiro Bastos perder o apoio de Itabuna (e mandar matar, sem sucesso, seu ex-aliado; o quase assassino foge com a ajuda de Gabriela, que o conhecia), ele morre placidamente em seu sono, seus aliados reconhecem que estavam errados (a lealdade era com o homem, não suas idéias) e a guerra política acaba com Mundinho e seus candidatos vencedores. Quanto a Nacib e Gabriela... Gabriela não se adapta de jeito nenhum à vida de "senhora Saad", para desespero de Nacib. Nacib acaba anulando o casamento ao pegá-la na cama com Tonico Bastos, seu padrinho de casamento. Mas ninguém ri de Nacib; pelo contrário, Tonico é humilhado e sai da cidade, o casamento é anulado sem complicações (os papéis de Gabriela eram falsos) e Gabriela sai de casa. Nacib fica amargurado e vai se recuperando. As obras na barra se completam com sucesso e Nacib e Mundinho abrem um restaurante juntos. O cozinheiro chamado pelos dois é... convidado a se retirar da cidade por admiradores de Gabriela, que acaba sendo recontratada por Nacib. Semanas depois, Nacib e ela reiniciam seu caso, tão ardente como era no começo e deixara e ser após o casamento. Num epílogo, o coronel, assassino dos dois amantes da primeira parte, é condenado à prisão. Cheio de uma crítica à sociedade ilheense, a própria linguagem do autor muda quando foca-se a atenção em Gabriela. Torna-se mais cantada, mais típica da região (como é a fala de todos), deixando a leitura cada vez mais saborosa.

(Fonte: www.culturatura.com.br)
GRANDES NOMES DA LITERATURA



JORGE AMADO

Jorge Leal Amado de Faria (Itabuna, 10 de agosto de 1912 — Salvador, 6 de agosto de 2001) é um dos mais famosos e traduzidos escritores brasileiros de todos os tempos. Existem dúvidas sobre o exato local de nascimento de Jorge Amado. Alguns biógrafos indicam que o seu nascimento se deu na Fazenda Auricídia, à época município de Ilhéus. Mais tarde as terras da fazenda Auricídia ficaram no atual município de Itajuípe, com a emancipação do distrito ilheense de Pirangy. Entretanto, é certo que Jorge Amado foi registrado no povoado de Ferradas, pertencente a Itabuna.
Amado foi superado, em número de vendas, apenas por Paulo Coelho mas, em seu estilo - o romance ficcional -, não há paralelo no Brasil. Em 1994 viu sua obra ser reconhecida com o Prêmio Camões, o Nobel da língua portuguesa. Ele é o autor mais adaptado da televisão brasileira, verdadeiros sucessos como Tieta, Gabriela e Tereza Batista são criações suas, além de Dona Flor e Seus Dois Maridos.
A obra literária de Jorge Amado conheceu inúmeras adaptações para cinema, teatro e televisão, além de ter sido tema de escolas de samba por todo o Brasil. Seus livros foram traduzidos em 55 países, em 49 idiomas, existindo também exemplares em braille e em fitas gravadas para cegos.
Era adepto ao candomblé, religião na qual exercia o posto de honra de Obá de Xangô no Ilê Opó Afonjá, do qual muito se orgulhava. Amigos que Jorge Amado prezava no candomblé as mães-de-santo Mãe Aninha, Mãe Senhora, Mãe Menininha do Gantois, Mãe Stella de Oxóssi, Olga de Alaketu, Mãe Mirinha do Portão, Mãe Cleusa Millet, Mãe Carmem e o pai-de-santo Luís da Muriçoca.
Como Érico Veríssimo e Rachel de Queiroz, é representante do modernismo regionalista (segunda geração do modernismo).

(Fonte: pt.wikipedia.org/wiki)

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

UM DEDO DE PROSA


O BLOGUEIRO E O POETA - Homenagem a Neruda

No dia 23 de setembro completará 35 da morte do maior poeta chileno, o inesquecível e incomparável Pablo Neruda.
São três décadas e meia sem o ineditismo da obra do poeta que chegou ao ápice em 1971, ano em que recebeu o Prêmio Nobel de Literatura.
Desde a sua morte a Literatura Universal permanece viúva, mesmo surgindo vários cadidatos à sua vaga. Ele era único e insubstituível. Seus versos cheios de lirismo até hoje embalam e encantam os corações apaixonados - senis e/ou juvenis -, levando-os ao êxtase; fazendo-os suspirar sob as "noites estreladas" dos seus VERSOS TRISTES.
"Posso escrever os versos mais tristes esta noite", porém escrevê-los-ei de forma que o meu coração sinta-se feliz pelo legado que nos foi deixado pelo grande mestre Neruda; escrevê-los-ei de forma que os astros azuis possam tiritar lá ao longe e o vento da noite possa girar no céu enquanto canta.
Sendo eu um grande fã da sua obra, não poderia deixar de mencioná-lo no PORTAL DA POESIA.
SALVE NERUDA!!!

MEUS VERSOS LÍRICOS


MENINOS DE RUA
(Joésio Menezes)

Crianças de presente sem futuro,
Crianças que vivem jogadas,
Crianças carentes de amor
E pela sociedade rejeitadas.

A rua é o seu nobre lar,
A vida, sua escola,
Os mendigos, seus amigos,
Sua diversão?..Cheirar cola.

O que comem colhem do lixo,
O que vestem, só de esmola.
Vivem de pequenos furtos
E é o relento quem as consola.

Esses pequenos delinqüentes,
Por todos discriminados,
Não atingem a maior idade,
Ainda crianças são exterminados.

(Nas Asas da Poesia, Brasília, 1998)


FILISTEUS
(Joésio Menezes)

Deus, ó meu Deus,
O que será dos filhos meus?
Serão filhos teus
Ou simplesmente filisteus?..

Se ligo a televisão
Vejo imagem de corrupção,
Catástrofes e violência...
Imagens de políticos irracionais
Debatendo desigualdades sociais,
Agredindo nossa inteligência.

Se leio o jornal
Nada eu encontro de anormal,
Nada que já não sabia;
Só mais uma criança aliciada,
Novamente a justiça subornada,
E a tudo isso escrevo uma poesia.

Deus, ó meu Deus
O que será dos filhos Teus?
Serão inconscientes ateus
Ou inconseqüentes filisteus?

Se saio pelas ruas,
O que vejo? Mulheres quase nuas
Em busca de alguns trocados.
Deparo-me com a delinqüência,
Vejo crianças perdendo a inocência
E envolvendo-se com viciados.

Como se fossem bichos
Vejo mendigos pegando nos lixos
O seu alimento do dia.
E enquanto assisto a essa cena
Sinto minh’alma pequena,
Mas, escrevo uma poesia.

Deus, ó meu Deus,
O que fazer com os filisteus?
Convertê-los em filhos Teus
Ou aceitá-los como filhos meus?

(Palavras, Sentimento e Paz, APL, Brasília, 2002, p.53)


*O VELHO E O NOVO
(Joésio Menezes)

Ambos dividem o mesmo espaço...
O novo, com mais ou menos cinco anos,
Sozinho não sabe fazer planos
Ou andar sem qualquer desembaraço.

O velho, representante digno do cansaço,
Envolto em seus maltrapilhos panos
Descansa o corpo em trajes desumanos;
O novo firma-se em suas “pernas de aço”.

O velho, insensível e egoísta que é,
Dorme; e ao seu lado permanece em pé
O novo, que cochila mas não cai...

O velho, também de coração maltrapilho,
Não se lembra que um dia já foi filho
Nem o que é ser protegido pelo pai.

*Cena que presenciei, às duas horas da manhã, na rodoviária de uma pequena cidade da Bahia.

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA E UNIVERSAL



O TEU RISO
(Pablo Neruda)



Tira-me o pão, se quiseres,
tira-me o ar, mas não
me tires o teu riso.

Não me tires a rosa,
a lança que desfolhas,
a água que de súbito
brota da tua alegria,
a repentina onda
de prata que em ti nasce.

A minha luta é dura e regresso
com os olhos cansados
às vezes por ver
que a terra não muda,
mas ao entrar teu riso
sobe ao céu a procurar-me
e abre-me todas
as portas da vida.

Meu amor, nos momentos
mais escuros solta
o teu riso e se de súbito
vires que o meu sangue mancha
as pedras da rua,
ri, porque o teu riso
será para as minhas mãos
como uma espada fresca.

À beira do mar, no outono,
teu riso deve erguer
sua cascata de espuma,
e na primavera, amor,
quero teu riso como
a flor que esperava,
a flor azul, a rosa
da minha pátria sonora.

Ri-te da noite,
do dia, da lua,
ri-te das ruas
tortas da ilha,
ri-te deste grosseiro
rapaz que te ama,
mas quando abro
os olhos e os fecho,
quando meus passos vão,
quando voltam meus passos,
nega-me o pão, o ar,
a luz, a primavera,
mas nunca o teu riso,
porque então morreria.


BOM DIA, AMIGO SOL
(J.G. de Araújo Jorge)

Bom dia, amigo Sol! A casa é tua!
As bandas da janela abre e escancara,
- deixa que entre a manhã sonora e clara
que anda lá fora alegre pela rua!

Entre! Vem surpreendê-la quase nua,
doura-lhe as formas de beleza rara...
Na intimidade em que a deixei, repara
Que a sua carne é branca como a Lua!

Bom dia, amigo Sol! É esse o meu ninho...
Que não repares no seu desalinho
nem no ar cheio de sombras, de cansaços...

Entra! Só tu possuis esse direito,
- de surpreendê-la, quente dos meus braços,
no aconchego feliz do nosso leito!...


UM ANJO
(Paulo Gondim)

Um anjo caiu do céu
Pousou na minha saudade
Veio como a brisa suave
Leve como o orvalho
E sorriu no amanhecer
Fazendo tudo em volta renascer
Um anjo que vagava pelo infinito
Semeava sonhos coloridos
Carregando lembranças boas
De um grande amor adormecido
E de tanto vagar e semear,
Resolveu colher as flores
E fazer chuva de pétalas
Para alegar corações sofridos
Inevitável o encanto.
A chuva de pétalas regou a saudade
A saudade aflorou a paixão
A paixão desabrochou em amor
O amor, mais uma vez, floresceu
E o anjo sorriu e voltou para o céu

CRÔNICA DA SEMANA


ALFINETE

Nunca gostei de encher bola de festa. Ainda mais se for de cor cinza, como o céu deste domingo.
O gosto seco e a textura áspera do plástico que tocamos os lábios para fazer crescer o ornamento faz tudo começar mal. Boca sabe muito mais do que cabeça e sente mais que coração. Boca não gosta de sabor ruim, nem de beijo falso. Boca não engana. Quem engana passa por ela com medo de ser mordido.
Mas aí você ludibria o paladar e continua o serviço de inflar. Expira tão forte que parece que algo além de ar também saiu do pulmão. Isso pode assustar os mais analíticos, como eu. Qual equipamento define o que pode sair e entrar naquele momento? E se, nesse movimento, se for um pedacinho de mim? E se entrar um pedacinho de alguém?
Levei um tempo para aprender a dar o nó na bola. Na verdade, depois que aprendi, também fingi em muitos momentos que não sabia, só para evitar a prática. Exige rapidez e uma certa coragem. Depois de lacrado, o que tem ali dentro só sai se alguém estourar, quiçá com um alfinete.
Hoje, estou me sentindo como se tivesse enchido todas as bolas de festa do mundo.
Vazia.
Engraçado que isso acontece justamente após ter me sentindo, por muitos dias, cheia de si.
Todo mundo também é seu próprio alfinete.
Encosta a boca, dá o que tem dentro do corpo e da alma, vigia para que aquilo não escape, sela, pensa que vai durar a eternidade e depois, acaba estourando. E aí, parece que abriram a caixa de Pandora. Tudo se esvai com o vento e parece que nunca existiu, mas até pouco tempo tinha forma e cor, e até voava.
Tem que ter coragem para dar fim à uma bola dessas. E ouvidos protegidos. O barulho é tão silencioso que te aprisiona. Parece o som de uma eternidade meio calada.
Então falar me pareceu uma boa opção.
Alguém aí quer fazer festa?

(Fonte: www.cccblog.wordpress.com)

RESENHA LITERÁRIA


VINTE POEMAS DE AMOR E UMA CANÇÃO DESESPERADA
(Pablo Neruda)

Era o poeta Neruda quem numa pensão da rua Maruri, em Santiago de Chile que recém estreava os anos vinte, escrevia dois, três ou cinco poemas como muito quando ainda era um jovem estudante da língua francesa. Seu verdadeiro nome era Neftalí Ricardo Reyes Basoalto. Cada tarde, quando o crepúsculo começava a contar as horas, se prostrava militarmente à sacada e contemplava o leque de cores repartidas entre as luzes do entardecer. Assim, começava Pablo Neruda a exercer de projeto de escritor com uma sensibilidade sobressalente que oscilava entre a inspiração tanto pelo urbano como pelo selvagem. Com este mesmo patrão escreveu Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada, na que põe em manifestação o instinto nascido nas ruazinhas de Santiago estudantil, mas que lembrava a certo ar do Sul com seus portos e vilarejos desertos e nostálgicos. Falar deste livro é falar da imensidade do mar, das gaivotas, das colinas semeadas de árvores frutíferas e como não, da mulher concebida como ser único, sutil e versátil. Quem não teve em sua memória alguma vez a singeleza da frase "gosto quando cala..., sendo esta a anotação mais lembrada da obra e o motivo do desgosto para os leitores que afirmavam sentir-se defraudados depois de ter lido "Crepusculário", uma das primeiras obras do poeta. Apesar de que Vinte Poemas de Amor e Uma Canção Desesperada ele escreveu nos anos quarenta, ficou gravada na memória da literatura universal como uma obra clássica com pinceladas de modernismo tardio e recorda-se, com o mesmo garbo que qualquer tango de Gardel, condenado a solidão e a lembrança. A Canção Desesperada, é como uma despedida da mulher musa de inspiração dos poemas porém igualmente completa de lirismo, singeleza e expressões que nos acercam o maduro instinto de qualquer homem humano.

(Fonte: www.resumos.netsaber.com.br)

GRANDES NOMES DA LITERATURA


PABLO NERUDA

Filho de um ferroviário e de uma professora primária, nasceu em 12 de julho de 1904, na cidade de Parral (Chile). Seu nome verdadeiro era Neftalí Ricardo Reyes Basoalto. Perdeu a mãe no momento do nascimento. Em 1906, a família muda-se para a cidade de Temuco. Começa a estudar por volta dos sete anos no Liceu para Meninos da cidade. Ainda em fase escolar, publica seus primeiros poemas no jornal “La Manãna”. No ano de 1920, começa a contribuir com a revista literária “Selva Austral”, já utilizando o pseudônimo de Pablo Neruda (homenagem ao poeta tcheco Jan Neruda e ao francês Paul Verlaine).
Em 1921, passa morar na cidade de Santiago e estuda pedagogia no Instituto Pedagógico da Universidade do Chile. Em 1923 publica ‘Crepusculário” e no ano seguinte “Vinte poemas de amor e uma canção desesperada”, já com uma forte marca do modernismo.
No ano de 1927, começa sua carreira diplomática, após ser nomeado cônsul na Birmânia. Em seguida passa a exercer a função no Sri Lanca, Java, Singapura, Buenos Aires, Barcelona e Madrid. Nestas viagens conhece diversas pessoas importantes do mundo cultural. Em Buenos Aires, conheceu Garcia Lorca; em Barcelona, Rafael Alberti.
Em 1930, casa-se com María Antonieta Hagenaar, divorciando-se em 1936. Logo após começou a viver com Delia de Carril, com quem se casou em 1946, até o divórcio em 1955. Em 1966, casou-se novamente, agora com Matilde Urrutia.
Em 1936, explode a Guerra Civil Espanhola. Comovido com a guerra e com o assassinato do amigo Garcia Lorca, compromete-se com o movimento republicano. Na França, em 1937, escreve “Espanha no coração”. Retorna neste ano para o Chile e começa a produzir textos com temáticas políticas e sociais.
No ano de 1939, é designado cônsul para a imigração espanhola em Paris e pouco tempo depois cônsul Geral do México. Neste país escreve “Canto Geral do Chile”, que é considerado um poema épico sobre as belezas naturais e sociais do continente americano.
Em 1943, é eleito senador da República. Comovido com o tratamento repressivo que era dado aos trabalhadores de minas, começa a fazer vários discursos, criticando o presidente González Videla. Passa a ser perseguido pelo governo e é exilado na Europa.
Em 1952 publica “Os Versos do Capitão” e dois anos depois “As Uvas e o Vento”. Recebe o prêmio Stalin da Paz em 1953. Em 1965, recebe o título Honoris Causa da Universidade de Oxford (Inglaterra). Em outubro de 1971, recebe o Prêmio Nobel de Literatura.
Durante o governo do socialista Salvador Allende, é designado embaixador na França. Doente, retorna para o Chile em 1972. Em 23 de setembro do ano seguinte, morre de câncer de próstata na Clínica Santa Maria de Santiago (Chile).

(Fonte: www.biografias.netsaber.com.br/)