quinta-feira, 31 de maio de 2012

UM DEDO DE PROSA

MEUS TEXTOS E EU

Sinto-me mal quando nada consigo escrever. Pior ainda quando escrevo palavras melancólicas, rudes, hostis, de revolta...
Prefiro escrevê-las quando estou de bem com o mundo, com a vida e, principalmente, comigo mesmo. Quando assim as escrevo, parece que elas fluem com mais naturalidade, com mais alegria, com mais leveza e bem mais harmonia. E fluindo desse jeito, elas se juntam umas às outras e formam textos leves, soltos, agradáveis e de fácil compreensão.
Sei que os meus escritos não são unânimes na preferência dos leitores, tampouco estão na lista dos mais rejeitados. E é justamente isso o que me leva a fazê-los: a certeza de que eles geram controvérsia e despertam nos seus leitores sentimentos dos mais variados.
Em verso ou em prosa, busco passar aos leitores tudo aquilo que estou sentindo no momento, por isso não me sinto bem ao escrevê-los quando estou triste ou de mau-humor, ou ainda quando dominado pela revolta, pois o leitor configura-se naquilo que lê.
Inicialmente, eu escrevia meus textos e os guardava porque não queria que ninguém os lesse visto que, na maioria das vezes, o texto é o reflexo de quem os escreve e muito me envergonhava deixar transparecer nas entrelinhas o que me afligia ou que ou quem eu desejava. Mas aos poucos fui descobrindo que os textos, de qualquer gênero ou estilo, são a nossa “liberdade de expressão” e devem ser lidos, ainda que causem controvérsias ou que nada digam.
Se eles (meus escritos) levam o leitor à reflexão ou não, isso eu não posso afirmar. Mas que me deixam mais leve e de espírito renovado, isso não posso negar.
MEUS VERSOS LÍRICOS

SÓ MAIS UMA VEZ
(Joésio Menezes)

Só mais uma vez
Eu queria beijar
Teus lábios de mel
E neles me lambuzar


Com o néctar do teu amor
Adocicando meu paladar
E fazendo a minh’alma
De prazer suspirar...

Só mais uma vez
Eu queria me deliciar
Com o doce dos teus lábios
Em minha boca a se espalhar.

E como último desejo,
Eu gostaria de ganhar
Um adocicado beijo teu
Antes de a morte me levar.


FASCÍNIO
(Joésio Menezes)

Hoje, o Céu amanheceu lindo,
aconchegante, encantador...
E assim ele acordou tão somente
para esperar um riso teu,
tão sincero e fascinante
quanto o azul-infinito
com que ele hoje nos presenteou.

Hoje, no Céu, o Sol despontou
cheio de graça, sorridente...
envolvido pela certeza
de que iria receber de ti
um sincero “bom-dia”
seguido daquele teu riso
tão cortejado pelo firmamento.

E sob os efeitos apaixonantes
do Sol e do Céu,
hoje apaixonei-me, inda mais,
pela vida, que nada seria
sem o brilho do teu olhar
e o fascínio do teu sorriso,
provas da existência de Deus.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

DESABAFO
(Vivaldo Bernardes)

Feliz é o beija-flor
que voa e vive beijando
e não sente esta dor
que eu venho suportando:

este desejo ardente
que me consome aos poucos
e me esmaga a mente
com o peso dos mais loucos

instintos próprios do homem
que não se julga eunuco
mesmo que assim o tomem
os velhos e já caducos,

indiferentes e infensos
aos mais ardorosos beijos
quais aqueles mui intensos
excitantes dos desejos.

Contudo, eu vivo preso,
pois não sou um beija-flor
que sufoca o seu desejo
mas não sou santo de andor.

Tenho cá muitos defeitos,
entre eles o maior
é chorar planos desfeitos
depois de tanto suor.


O TEMPO SECA OAMOR
(Cecília Meireles)

O tempo seca a beleza, 
seca o amor, seca as palavras. 
Deixa tudo solto, leve, 
desunido para sempre 
como as areias nas águas. 
O tempo seca a saudade, 
seca as lembranças e as lágrimas. 
Deixa algum retrato, apenas, 
vagando seco e vazio 
como estas conchas das praias. 
O tempo seca o desejo 
e suas velhas batalhas. 
Seca o frágil arabesco, 
vestígio do musgo humano, 
na densa turfa mortuária. 
Esperarei pelo tempo 
com suas conquistas áridas. 
Esperarei que te seque, 
não na terra, Amor-Perfeito, 
num tempo depois das almas. 
CRÔNICA DA SEMANA

APOLOGIA AO ERRO
(Daniel Carvalho Luz)

Você tem medo de errar? Todo mundo tem. Homens, mulheres, presidentes, governos inteiros. O que aconteceria se, cada vez que cometêssemos um erro, desistíssimos de tudo? Se, logo na primeira tentativa fracassada, entregássemos os pontos?
Imagine um bebê que mal consegue pôr-se de pé e já torna a cair. Que seria dele se, diante deste primeiro erro, concluísse: “É, não deu certo. Deve haver algum outro modo… Esta minha ideia não foi boa? 
Imagine na escola, um aluno que desistisse de tudo, mal erra o primeiro problema de aritmética de sua vida. Não conseguirá sequer acertar o troco no supermercado. E, daí, milhões de pequenas e grandes coisas que nunca mais poderá fazer. 
Errar é uma etapa essencial no processo de crescer e cada vez que desistimos de alguma coisa, por medo de errar, estamos nos privando de algum – ou de muitos! – dos prazeres de crescer e de viver. 
Evidentemente, seria possível raciocinar pelo absurdo: se é errando que se aprende, quanto mais erramos, melhor: aprendemos mais. Não é isto o que estou querendo dizer. O que estou querendo dizer – sem medo de errar! – é que usar o risco de cometer erros como pretexto para não lutar pelo que se deseja é ignorância, pura e simples. 
Os erros que cometemos ao longo da vida são parte essencial de nossa educação. A cada queda, é preciso sacudir a poeira e tornar a tentar. Tudo o que sabemos, hoje, aprendemos com os erros do passado, com gerações e gerações de gênios que erraram muito, até acertar. 
Aprenda a valorizar seus erros, um por um, e todos os que já cometeu. E aprenda a ver, nos erros que ainda haverá de cometer, a sua chance de descobrir algo de novo. 
Erre, mas por tentar!

quinta-feira, 24 de maio de 2012

UM DEDO DE PROSA

MULHER, SINÔNIMO DE POESIA

Sentados à mesa de um bar, um velho amigo (no sentido real da palavra) e eu conversávamos sobre POESIA e MULHER. Dizia-me o amigo, no auge dos seus mais de 80 anos, que uma está intimamente ligada à outra. Segundo ele, a essência da poesia seria nula não fosse a existência do feminino; e a mulher, por sua vez, é a essência pura e perfeita da poesia, é a harmonia completa de cada verso escrito.
"Tudo na mulher inspira poesia, inclusive quando ela está naqueles dias (TPM)" - dizia ele. "Se ela sorri, chora, reclama, aconselha, faz cara feia (o que é difícil), nos afaga, pede-nos um afago... enfim, todos as suas atitudes e trejeitos fazem brotar poesia, e da melhor qualidade!..., ou seja, a mulher por si só é a poesia”. Sábias palavras que levarei para sempre comigo!...
Apesar de também comungar com o pensamento do velho amigo, essas palavras soaram em meus ouvidos como a brisa que sopra e espalha o pólen das flores pelos verdes campos da vida, entoando a canção da liberdade aos versos que insistem ficar aprisionados em nossas mentes.
MEUS VERSOS LÍRICOS

EGOCENTRISMO
(Joésio Menezes)

Adentrei teu coração
E, antes que dissesses não,
Tua vida invadi.

Aprisionei tua liberdade,
Violei tua intimidade,
Apossei-me de ti.

Descobri teus segredos,
Ignorei teus medos,
Teus princípios transgredi.

Profanei teu pudor,
Resignei teu amor,
Teus apelos não ouvi...

E no auge do cinismo
Revelei meu egocentrismo
E em teus braços me perdi.


ACASALAMENTO
(Joésio Menezes)

A troca de olhares,
O sorriso,
A insinuação.

O aceno,
O consentimento,
A aproximação.

O abraço,
Os beijinhos,
O aperto de mão.

A conversa,
Os trejeitos,
A descontração.

O convite,
O acerto,
A confirmação.

O encontro,
Os afagos,
A iniciação.

Os arrepios,
O desejo,
O tesão.

A intimidade,
A entrega,
A copulação.

Os sussurros,
Os gemidos,
A explosão!...
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

QUE É SIMPATIA?
(Casimiro de Abreu)

Simpatia é o sentimento
Que nasce num só momento,
Sincero, no coração;
São dois olhares acesos
Bem juntos, unidos, presos
Numa mágica atração.

Simpatia são dois galhos
Banhados de bons orvalhos
Nas mangueiras do jardim;
Bem longe às vezes nascidos,
Mas que se juntam crescidos
E que se abraçam por fim.

São duas almas bem gêmeas
Que riem no mesmo riso,
Que choram nos mesmos ais;
São vozes de dois amantes,
Duas liras semelhantes,
Ou dois poemas iguais.

Simpatia, meu anjinho,
É o canto de passarinho,
É o doce aroma da flor;
São nuvens dum céu d'agosto
É o que m'inspira teu rosto...
Simpatia é quase amor!


TENTA ESQUECER-ME
(Mário Quintana)

Tenta esquecer-me…
Ser lembrado é como evocar
Um fantasma…
Deixa-me ser o que sou,
O que sempre fui: um rio que vai fluindo…
Em vão, em minhas margens cantarão as horas,
Me recamarei de estrelas como um manto real,
Me bordarei de nuvens e de asas,
Às vezes virão a mim as crianças banhar-se…
Um espelho não guarda as coisas refletidas!
E o meu destino é seguir… é seguir para o mar,
As imagens perdendo no caminho…
Deixa-me fluir, passar, cantar…
Toda a tristeza dos rios
É não poder parar!
CRÔNICA DA SEMANA

UMA IRÔNICA CRÔNICA
(Lissânder Dias)

Hoje acordei com um passarinho batendo a cabeça na janela. A vida às vezes é irônica, e somos despertados pela ironia.
Leve riso, tomado pela tragédia da contradição. Mas nem tudo é contradição e nem tudo é tragédia. Há um novo dia que nasce, lembrando que há rotina, mas não somente ela. Há a possibilidade de encontrar um universo na casca de nozes ou no quintal de casa. Minhocas, lesmas e girassol.
Quem disse que nossas emoções e sentimentos devem ser reféns do último capítulo da novela? Quem precisa de novela se temos a vida todos os dias? Temos a alegria da grávida, o choro do bebê, as vozes na feira, o almoço compartilhado. Temos ideias, virtudes e vícios. Lutamos contra os vícios, enquanto nos fortalecemos com as virtudes. As ideias são combustível para o aprendizado.
Temos o mar que nos leva, leva e leva. Se aportamos, não nos conformamos com o porto. Queremos o vento, o som, o barco. Mesmo que em luta, queremos o peixe como companheiro. Mesmo velhos, ainda sonhamos.
E quando em um certo dia pensarmos que somos fracassados, e que estamos no lugar errado, pode até ser. E se for, que seja o fósforo que acende a lenha, que seja o anseio do inconformismo a salvação dos fracassados. “Ninguém é covarde em todos os aspectos” (C. S. Lewis).
Que o dia termine sem terminar. Que haja uma nova vida no dia seguinte, e no dia seguinte. Que este novo também seja velho para que a ingratidão não nos domine e não nos faça pensar que tudo é efêmero. O efêmero é inimigo da esperança.

quarta-feira, 16 de maio de 2012


UM DEDO DE PROSA

MEIO SÉCULO MAIS UM

O tempo voa na velocidade da luz!...
Prova disso é que ontem eu comemorava a chegada da minha maioridade. Hoje, vejo aproximar-se de mim (na velocidade do som) a fase mais contestada da vida: a “desejadíssima” MELHOR IDADE.
Completo hoje meio século mais um, e as consequências dessa façanha estão presentes no corpo, cada vez mais fraco, mais flácido e mais desgastado pelo tempo. Felizmente, o “chip” reservado ao armazenamento de informações e à conservação da MEMÓRIA ainda está em perfeito estado!...
Eu só queria entender o porquê de chamarem essa fase das nossas vidas de MELHOR IDADE!... Como MELHOR se é nela que a maioria das enfermidades costuma aparecer, se é nessa fase que os neurônios começam a falhar e as funções vitais passam a desobedecer aos comandos do cérebro?... Como MELHOR IDADE se nessa fase da vida a única coisa a subir é a pressão arterial e a quantidade de remédios a se tomar?
Mas fazer o quê, né?... É a LEI DA NATUREZA!...
O tempo é implacável e não perdoa nada nem ninguém. Tudo se desgasta com a sua passagem, inclusive as pedras. Porém, nada tenho a reclamar. Estou feliz por ter chegado até aqui, e espero ir bem mais adiante!... Pior que eu estão aqueles que morreram antes dos cinquenta.

MEUS VERSOS LÍRICOS

AS MARCAS OCULTAS DO TEU BIQUINI
(Joésio Menezes)

Às vezes uma cútis bronzeada
Atrai nossos olhares sem pudor
E nos provoca fremente calor,
Deixando noss’alma inebriada.

Às vezes uma taça de Martini
Ou até mesmo uma de bom vinho
Pode nos conduzir ao desalinho
De fazer algo que nos incrimine.

E como eu não sou de beber nada,
Prefiro algo que deixe excitada
Minha libido, que bem me define.

Peço-te, então: mostra-me o caminho
Que me permita ver - só um pouquinho! -
As marcas ocultas do teu biquíni!...


O PIÃO
(Joésio Menezes)

O pião rodopia
Fazendo a alegria
Da criançada na rua.

Ele gira, ele dança,
E na mão da criança
Seu rodopio insinua

Que a alegria é breve
E que ninguém se atreve
A desperdiçar a sua.

Roda alegre o pião,
Agora solto no chão,
E a alegria continua...

Roda, pião amigo,
Pois quero ter comigo
Essa alegria tua!


O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA

AMOR & LÁPIS
(Madalena Barranco)


Leio teu mundo
nos traços de grafite
que deixo em tuas mãos.

Profiro palavras imprecisas
nos lábios unidos
em nosso papel.


Imprimimos dois corações
num livro livre e aberto,
boquiaberto e sem letras.


O POETA
(Patrícia Ximenes)

- ao amigo Joésio Menezes -

Lá em Planaltina
nasceu um poeta
que tem 'sonhos de planalto'
constituídos de
versos elevados
cuja superfície
é encontrada no coração...
Lá em Planaltina
vive um poeta
que não mede altura
e nem distância
para demonstrar
o quão importante somos
quando escreve...
Lá em Planaltina
brilha um poeta
que emerge, dispersa
palavras bonitas
para quem as buscam...
Lá em Planaltina
está um amigo.

CRÔNICA DA SEMANA

NO CAMINHO, DOIS JARDINS
(Pedro Paulo Galindo Morales)

Sempre caminhei para o trabalho, tive sorte de morar perto, o transito cada vez mais atrapalhado e nervoso penso que é o mal de toda capital, muitos carros e poucas vias para eles circularem, no caminho sempre passo por duas casas que me chamam a atenção, ambas com jardins amplos.
A primeira casa tem um jardim muito bem cuidado, as plantas verdinhas sempre cheias de flores, passarinhos que ajudavam a polinizar outras plantas, fazem nascerem à vida, borboletas que dão ao jardim um colorido especial, a grama bem cortada e árvores com sombras, sem folhas secas pelo chão. Sempre vejo um a duas vezes na semana um jardineiro cuidando do local.
A segunda casa no jardim não há flores, as plantas estão com ervas daninhas e o gramado sempre cheio de lixo e folhas secas, não há passarinhos e borboletas, as árvores mal cuidadas e cheias de folhas secas. A impressão que se tem é que ninguém cuida do jardim, de pessoas da casa só vejo de vez em quando um senhor triste que sai para trabalhar e um casal que briga na varanda com seus filhos.
Comecei a pensar naqueles jardins e a pensar na vida, como às vezes nos lamentamos por tudo que nos acontece e culpamos outras pessoas quando o problema esta em como cuidamos de nossa vida, analisei que o jardim bem cuidado atrai os passarinhos e borboletas os primeiros permitem que a vida se reproduza e as borboletas dão um colorido todo especial a aquele jardim e faz com que ele se torne um cenário ideal para momentos de descanso e contemplação.
Depois desse pensamento comecei a entender que a nossa vida é um jardim, nos somos o jardineiro e que no caminhar da vida sempre devemos tratar bem desse “jardim”, fazer com as “borboletas” deem um colorido especial e os “pássaros” tragam coisas boas.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

UM DEDO DE PROSA


CARPE DIEM, FILII!...

Atenção, filhos!...
No próximo domingo (dia 13 de maio) será comemorado o DIA DAS MÃES. Portanto, aproveitem o dia para usar e abusar da companhia daquelas que lhes trouxeram ao mundo.
Não saiam do seu lado um só segundo. E mesmo que elas ordenem: “larga do meu pé, chulé!”, desobedeçam-nas. Mantenham-se ali, coladinhos a elas, dando e recebendo carinho (mais dando que recebendo!), pois bem-aventurados são aqueles que têm Mãe e dela podem ouvir um carinhoso SIM ou um proibitivo NÃO; bem-aventurados são os que dela têm - ao menos - um segundo de atenção, um milésimo de cuidado, uma gota de amizade; um grão de amor... Bem-aventurados são os que têm o privilégio de ser acordados – diariamente - pela Mãe com um sonoro e maternal BOM-DIA seguido de um afetuoso beijo na testa ou no rosto.
Enfim, bem-aventurados os que têm (ou tiveram) a oportunidade de usufruir da companhia, do carinho e do amor dos Anjos enviados por Deus para nos proteger, anjos estes chamados MÃE. Por isso, filhos, aproveitem bem os MOMENTOS que lhes são oferecidos ao lado das suas mães, pois o tempo é efêmero e, consequentemente, esses momentos também são.



MEUS VERSOS LÍRICOS

LOBA
(Joésio Menezes)

- à amiga Ellen Socorro -

Sim!... és uma brava guerreira
Seguindo - sem medo - a trilha
De uma vida alvissareira
À frente da sua “matilha”.

E tal qual fera sorrateira,
Tu te livras das armadilhas
Que a vida - sobremaneira -
Delas jamais se desvencilha.

És loba selvagem, faminta,
Vivendo - na casa dos trinta –
Cada dia com muita gana...

Sim!... És também mulher serena
Em busca duma vida amena
Nessa fase balzaquiana.


UM SONETO AO NOSSO AMOR
(Joésio Menezes)

- à minha esposa -

Por meio dos versos canto o Amor...
Nosso amor, para ser mais exato!
Por ele faço o que preciso for
Sem medo de que ele seja abstrato.

A ele entrego-me com despudor
Sem me preocupar em ser sensato,
Pois que é o excesso de pudor
O final dum sentimento inato.

Eu canto o Amor... e me sinto bem
Cantando-o exatamente a quem
Sempre me deu amor em demasia...

Por meio destes versos hoje canto
Nosso Amor só pra dizer o quanto
Sou feliz contigo, luz do meu dia!

O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA


FAREJADO
(Glauco Mattoso)

Bassê no apartamento fuça em tudo!
Passeia pela sala e faz lambança
no pé dos móveis, máximo que alcança
um corpo tão comprido e salsichudo...

Já li de especialistas um estudo
provando que o bassê, mais que a criança,
precisa bagunçar, e só se amansa
com beijo. Então, do meu nunca desgrudo.

Comigo no sofá, também cochila;
só falta, à mesa, usar o mesmo prato;
na cama nossa noite é bem tranquilla.

Estranham que ao cão como gente trato?
Pois saibam que até cocker, collie e fila
me latem dos vizinhos! E eu lhes lato!


MELHOR IDADE
(Enrique de Resende)

Envelheci... Na minha ingenuidade,
sem que eu jamais os percebesse um dia,
surpreenderam-me os anos... Em verdade,
não sou quem fui, não valho o que valia.

Sempre afeito, porém, à fantasia,
pois quem vive a sonhar não tem idade,
povoam-me a cabeça, na invernia,
os mesmos sonhos meus da mocidade.

Fluiu-me a vida, descuidosa e manda,
por entre sonhos de ilusão refeitos,
por entre os poemas que, a sonhar, componho.

Vida de poeta – um sonho de criança.
- Mas se em vida sonhei, de olhos abertos,
é que eras tu a vida do meu sonho.



CRÔNICA DA SEMANA


TODO DIA É DIA
(Ivan Ângelo)

Ao contrário do que aconteceu em anos anteriores, no último Dia Internacional da Mulher as redes nacionais de televisão aberta do país do Carnaval preferiram homenagear um tipo de mulher: a pelada.
Para uma mulher aparecer pelada na televisão, ela tem de ter corpo. Corpaço. E isso é problema para quem precisa encarar mais de três horas de condução diária, oito de trabalho, refeição barata e calórica, tentações de padaria e fast-food, e várias horas de tarefas em casa.
A preferência da televisão não fez jus à mulher da nossa vida, mães, esposas, namoradas, irmãs, amigas. Ninguém mais merece tanto amor e amizade, como celebra Vinicius de Moraes na "Elegia Desesperada", ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade, ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade.
Poeta, acaso sabias que há mais mulheres do que homens no país? — 3,9 milhões a mais, no último Censo, a que acabamos de responder.
Haverá para todas, poeta, haverá amor e amizade, poesia e sinceridade, alegria e serenidade? Não que os homens sejam únicos provedores de tais bens. Eles falham muitas vezes nessa missão, e se tornam, reconheçamos, provedores justamente dos bens contrários, semeando decepção e mágoa. Filhas são agredidas e esposas desrespeitadas por homens considerados de bem quando as portas do lar se fecham. Que descontrole os governa?
Muitas nem precisam tanto assim de homens para amor, poesia e alegria. Têm amizades, namoradas e companheiras que saberão atendê-las. Mas 4 milhões é muita gente, pode haver falta.
Até a idade de 20 anos, a balança dos sexos feminino e masculino é mais equilibrada, os homens são na verdade pequena maioria. Depois, até os 50 anos, o número de mulheres ultrapassa muito o de homens. Porque, jovens, eles morrem de aventura — acidentes, assaltos, brigas; e, maduros, morrem de stress. Após os 50 anos, é ainda maior o número proporcional de mulheres. Resultado: elas ficam sós por mais tempo.
Já há alguns anos, o Rio é a capital em que sobram mais mulheres; há 86 homens para cada 100 mulheres. A violência é uma das razões. Em São Paulo, seis anos atrás, a conta era 91 mulheres para 100 homens. Está sendo atualizada e deve continuar por aí. São cerca de 900.000 mulheres a mais na área metropolitana. A prefeitura fez até um levantamento por região, detectando predomínio de viúvas na Mooca e de descasadas em Pinheiros.
O excesso aumenta nossa responsabilidade — a nossa, dos homens de boa vontade — e o mês da mulher, março, convida a pensar nisso. O pior, ou melhor, sei lá, é que se diz que o déficit alto de homens no Rio está direcionando de lá para São Paulo as antenas das mulheres com esperança de união estável.
É responsabilidade nossa contribuir para o bem-estar da mulher, 50%, pelo menos. Elas já têm contra si a variação hormonal, a obrigação da beleza, a pele mais sensível, o peso da gravidez, a amamentação, o salário menor, o funcionamento da casa, a maior suscetibilidade à celulite, o prazer mais trabalhoso... Ela quer beijo, bom humor, saber que foi lembrada durante o dia. Mínimas coisas: uma flor, uma frase, uma empadinha, um telefonema, um torpedinho. Tendo carinho, os outros 50% pode deixar que ela faz.
E, às que sobram na estatística, quem dará seu quinhão de amizade, sinceridade e serenidade, que o poeta pedia? Vamos, homens, temos trabalho extra a fazer.