terça-feira, 30 de abril de 2013

UM DEDO DE PROSA


PREÂMBULO SOBRE O VÍCIO

            Ao contrário da virtude, o vício (que significa "falha" ou "defeito") é um hábito repetitivo que degenera ou causa algum prejuízo ao viciado e aos que com ele convivem.
A ciência tenta explicar em todas as suas vertentes a origem do vício, mas filosoficamente isto é contraditório, já que o conceito de ciência não prescinde de moral ou ética, ao menos no sentido social, em sua prática investigatória, e, portanto, tal conceito não pode ser quantificado ou isolado para análise imparcial.
Por outro lado, em se tratando de dependência, seja ela de ordem orgânica, psicossocial ou mista, há grandes possibilidades de se encontrar medicamentos definitivos e de maior qualidade, que eliminem o vício em suas diversas formas.
            Porém, cabe ressaltar que nem todo vício é nocivo ao homem, pois, como bem disse o poeta Fernando Pessoa, “todo o prazer é um vício”. Então, sou um irremediável viciado, pois a busca do prazer é o que, incessantemente, todos nós fazemos em nossas vidas. E dentre os prazeres que na vida encontrei, o que mais me afetou foi o VÍCIO DA LEITURA, um vício prazerosamente incurável...
MEUS VERSOS LÍRICOS


IGREJA
(Joésio Menezes)

Eu não preciso de igreja
Pra pedir que Deus me proteja
Ou qu’Ele me dê Seu perdão.
Preciso sentir, tão somente,
Que o amor do Onisciente
Conforta o meu coração.

De igreja eu não preciso
Para entrar no paraíso
E conseguir a “salvação”.
Eu só preciso, simplesmente,
Acreditar no Onipotente
Para ter Sua proteção.

Igreja não salva ninguém,
Ainda que se diga Amém
Aos dogmas da religião.
Quem salva é o Onipresente
Vivo no coração da gente,
Sejamos crédulos ou não.


MEU FOGO
(Joésio Menezes)

O meu fogo me arde nas entranhas,
Me queima o pudor sem piedade,
Me leva a delirar coisas estranhas,
Incinera a minha sobriedade...

Ele arde com toda a sua sanha
E me leva à quase insanidade;
É um fogo tão forte que assanha
Minha libido na totalidade.

Esse fogo parece não tem fim
E, quando te aproximas de mim,
Sinto no corpo todo o seu ardor.

E sob as chamas desse fogo hostil,
Sinto-me como animal no cio:
Nervoso, inquieto, uivador...
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA


CISNES BRANCOS
(Alphonsus de Guimaraens)

Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Porque viestes, se era tão tarde?
O sol não beija mais os flancos
Da Montanha onde mora a tarde.

Ó cisnes brancos, dolorida
Minh’alma sente dores novas.
Cheguei à terra prometida:
É um deserto cheio de covas.

Voai para outras risonhas plagas,
Cisnes brancos! Sede felizes...
Deixai-me só com as minhas chagas,
E só com as minhas cicatrizes.

Venham as aves agoireiras,
De risada que esfria os ossos...
Minh’alma, cheia de caveiras,
Está branca de padre-nossos.

Queimando a carne como brasas,
Venham as tentações daninhas,
Que eu lhes porei, bem sob asas,
A alma cheia de ladainhas.

Ó cisnes brancos, cisnes brancos,
Doce afago da alva plumagem!
Minh’alma morre aos solavancos
Nesta medonha carruagem...

Quando chegaste, os violoncelos
Que andam no ar cantaram no hinos.
Estrelaram-se todos os castelos,
E até nas nuvens repicaram sinos.

Foram-se as brancas horas sem rumo,
Tanto sonhadas! Ainda, ainda
Hoje os meus pobres versos perfumo
Com os beijos santos da tua vinda.

Quando te foste, estalaram cordas
Nos violoncelos e nas harpas...
E anjos disseram: — Não mais acordas,
Lírio nascido nas escarpas!

Sinos dobraram no céu e escuto
Dobres eternos na minha ermida.
E os pobres versos ainda hoje enluto
Com os beijos santos da despedida.


NA MESA
(Alphonsus de Guimaraens Filho)

Sobre a toalha, o pão,
o bule, as xícaras, o café,
confabulam. Que dizem
no seu silêncio de coisas
tocadas de esperança,
da latente esperança
da manhã? Dir-se-ia
que se sentem ligados
à vida - ou que na vida
se irmanam, se confundem,
pousados sobre a mesa
como em seu próprio mundo,
pousados no silêncio
como se tudo fosse,
para eles, a dádiva
fascinante, translúcida.

A um canto, solitária,
uma faca os espia.
CRÔNICA DA SEMANA


SEGREDOS DO CASAMENTO
(Luís Fernando Veríssimo)

Minha mulher e eu temos o segredo para fazer um casamento durar: duas vezes por semana, vamos a um ótimo restaurante, com uma comida gostosa, uma boa bebida e um bom companheirismo. Ela vai às terças-feiras e eu, às quintas.
Nós também dormimos em camas separadas: a dela é em Fortaleza e a minha, em SP.
Eu levo minha mulher a todos os lugares, mas ela sempre acha o caminho de volta. Certo dia, perguntei a ela onde ela gostaria de ir, no nosso aniversário de casamento: "em algum lugar que eu não tenha ido há muito tempo!" ela disse. Então, sugeri a cozinha.
Nós sempre andamos de mãos dadas... Se eu soltar, ela vai às compras!
Ela tem um liquidificador, uma torradeira e uma máquina de fazer pão, tudo elétrico. Então, ela disse: "nós temos muitos aparelhos, mas não temos lugar pra sentar". Daí, comprei pra ela uma cadeira elétrica.
Lembrem-se: o casamento é a causa número 1 para o divórcio. Estatisticamente, 100 % dos divórcios começam com o casamento. Eu me casei com a "senhora certa". Só não sabia que o primeiro nome dela era "sempre".
Já faz 18 meses que não falo com minha esposa. É que não gosto de interrompê-la. Mas, tenho que admitir: a nossa última briga foi culpa minha.
Ela perguntou:
− O que tem na TV?
E eu disse:
− Poeira.

sábado, 20 de abril de 2013

UM DEDO DE PROSA

BRASÍLIA, 53 ANOS


            Quando aqui cheguei, há 43 anos, Brasília era ainda uma criança assustada com a repressão causada pelo regime militar. Tínhamos quase a mesma idade (ela com 10 e eu com 9 anos) e nada sabíamos sobre o porquê de todas aquelas atrocidades contra a população que só queria ser livre, ter o “direito de ir e vir”.
            Os anos passaram, a ditadura militar acabou, Brasília cresceu, amadurecemos... Entanto, hoje enfrentamos outros problemas inda mais sérios que os de outrora: caos na saúde e no sistema de transporte público, corrupção aguda nos três poderes, proliferação crescente da violência urbana, insegurança. E o pior de tudo é que, em consequência desses dois últimos itens, voltamos aos tempos da ditadura e perdemos o “direito de ir e vir”, direito este estabelecido pelo Artigo 5º da Constituição Federal.
            Mas, apesar dos pesares, Brasília jamais deixou de ser bela, charmosa e encantadora, e hoje, aos 53 anos, ela continua encantando e inspirando os artistas que aqui nasceram e os que para cá vieram e não mais voltaram aos seus torrões. São músicos, pintores, escultores e poetas que não se cansam de exaltar os encantos que fizeram de Brasília a “Capital da Esperança”.
            E como filho adotivo desta FELIZ CIDADE, eu não poderia deixar de homenageá-la nesse dia tão especial para todos nós: o dia do seu aniversário. Sou-lhe muito grato, pois, ao longo dos anos, ela proporcionou-me intensos e inesquecíveis momentos de FELICIDADE. Por isso, as publicações desta semana são alusivas ao aniversário da nossa querida cidade. 
            PARABÉNS, BRASÍLIA!... PARABÉNS, BRASILIENSES!...
MEUS VERSOS LÍRICOS



BRASÍLIA, CAPITAL
DA ESPERANÇA E DA POESIA
(Joésio Menezes)

Na Brasília de Tetê Catalão,
José Geraldo e Nicolas Behr,
A poesia - clássica ou não -
Por meio dos versos diz o que quer.
Ela bem canta os encantos mil
Da charmosa Capital do Brasil
Sem se esquecer de exaltar a mulher.

Ela fala das ruas sem esquina,
Dos arcos que formam a Catedral,
Do Céu azul que tanto nos fascina,
Da cultura em nossa Capital...
E sem desafinar ela canta árias
Às extensas Asas imaginárias
Que cruzam o Eixo Monumental.

Também enaltece a Natureza;
Saudades sente da flor do cerrado.
Em quase tudo ela vê beleza,
Inclusive no concreto armado
Que viadutos e pontes sustenta
Desde os idos dos anos sessenta,
Quando o “Sonho” vimos concretizado...

Mesmo estando Brasília submersa
Num oceano de desconfiança,
A poesia jamais desconversa,
Canta versos de autoconfiança...
Ela canta muitas coisas malditas,
Corrupção, falcatruas infinitas,
Mas o faz esbanjando esperança.


DESATINO
(Joésio Menezes)

Meus pensamentos foram em busca de ti...
Pela janela da vida saíram sem tino.
De carona no vento eu os segui
e juntos viajamos sem destino.
Ambos vagamos pelo orbe celeste,
E de Norte a Sul, de Leste a Oeste -
o que encontramos foi o desatino.
O MELHOR DA POESIA BRASILEIRA



BRASÍLIA
(Lurdiana Araújo)

Onde um dia dormira
um vasto planalto,
hoje acorda Brasília,
nos braços do mundo.
Acorda tão viva,
formosa e bela,
abraça as estrelas
e os ipês floridos,
os sonhos sonhados
e o azul do céu.

Esta é Brasília
de asas douradas
a pairar soberana,
quase ave, aeronave,
sob a abóbada
celeste e os
raios do sol.

A solidão do lago
em nostálgica canção
de girassóis meninos,
traz no vento a saudade
dos candangos de outrora.

Não te desejo Brasília,
a conquista do mundo,
conquiste dias felizes,
assim conquistarás
o pólen do mundo.


TERRA NOVA DO PARANOÁ
(Paulo Bertran)

Nosso ofurô
Será de nossos volumes
corporais.

Tuas pernas
recipiendam
as minhas.

Neste monte farás
nossa casa.
No santuário do leste
nossa cama se banhará
de luas neves.

Para o Ocidente,
o sol e a cidade
servirão ao tédio.
Acolá perto,
descendo a serra,
viverão filhos de nossos filhos.

No meio,
nascerão os filhos
de nossas cabeças.

No norte e sul
habitarão
nossos afilhados.

Nós, pais e mães
da Terra Nova.